Confissões de um Ex-Pastor - III

Aviso ao leitor: Se ainda não leu os textos anteriores, incluindo a reação de leitores e a resposta do ex-pastor K, conviria fazê-lo agora para não perder a seqüência de seu raciocínio:

 

Desde cedo, na minha vida cristã, aprendi na prática o significado das palavras ditas pelo Mestre: "Se você quer me seguir, tome a sua cruz. A cada dia, negue a si mesmo. Você quer a vida eterna, K? Então perca a vida neste mundo..." Eu tinha 20 anos, mas levei isto a sério.

Logo após decidir batizar-me, sabia que teria que comunicar isto a minha família. Meu pai, um italiano tradicional, bem de vida. Dinheiro ele tinha de sobra, assim como
arrogância. Eu vivia às suas custas. Com 20 anos, era um mimado filho do papai.

Não me faltava nada. Estudava num colégio de freiras, bem tradicional, onde a elite
paulistana confiava seus queridos filhinhos, cegamente, ao ensino católico. Freqüentava discotecas, comprava roupas de grife famosa, cortava meu adorado cabelo nos lugares mais caros...

Era, como todos eles, um jovem frívolo, vazio, arrogante, que media as pessoas pela sua aparência e posses. Mas algo me fazia diferente. Eu conhecia a verdade e na sala do meu tio, ela falou mais alto no meu coração.

Contei ao meu pai sobre minha decisão, de batizar-me na Igreja Adventista. Seu rosto ficou vermelho, sua mão tremeu de raiva e ele se limitou a dizer: "De hoje em diante, você fica sem seu carro, dinheiro, roupas... Peça tudo isto pros teus irmãos." Meu pai sempre falou pouco, mas sempre cumpria o que falava.

Fui em frente. Perdi todos os meus amigos. Achavam que eu tinha ficado louco. Após o meu batismo, veio a decisão: "Vou fazer teologia e ser um pastor!" Comuniquei ao meu pai novamente. Desta vez, ele agiu diferente. Sentou-se e pediu para eu me sentar. Calmamente, travou o seguinte diálogo comigo:

K, quando você decidiu ser um crente, eu lhe tirei tudo. Foi para o seu bem. Estes crentes são todos malucos, e eu queria acordar você para este fato. Diga-me, foi bom ficar sem tudo isto, dinheiro, carro, roupas finas, etc?

Jesus se fez presente naquela sala. Eu senti isso. Respondi:

Não, não foi bom. Mas o senhor me fez escolher entre estas coisas materiais e Jesus. Está escrito pai: Amarás o Senhor teu Deus de todo coração de toda tua alma, com todo o teu entendimento. Como posso colocar coisas materiais, acima do meu Deus?

Ele, para minha surpresa, permaneceu calmo. Ele não era assim. Compreendi, que o mesmo Satanás, que havia possuído a jovem adventista, agora dialogava comigo, usando meu pai.

K, - disse ele com uma calma assustadora - estão te chamando de louco, o que você diz disto?

A cruz de Cristo, pai, é loucura para aqueles que não acreditam.

Mas você perdeu todos os teus amigos.

Mas existe um Amigo, mais chegado que um irmão.

Você ficou sozinho, K...

Não estou só, porque o Pai está comigo.

Neste momento, ele se levantou rapidamente. Meu pai sempre foi um homem extremamente forte. Havia, na sua juventude de brigas de rua, desmaiado homens com apenas um soco. Ele se aproximou de mim, em atitude agressiva e disse:

Você vai perder toda sua família.

Se meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá.

Pára de citar a bíblia para mim, seu desgraçado!

O clima de tensão atingira seu auge. Meu pai em pé, com seu rosto bem próximo do meu, que permanecia sentado no sofá. Minha irmã chorava na cozinha e temia pelo
pior.

Pára, K, fale como um homem! Se falar de novo assim, vou até teu quarto, e faço você engolir tua bíblia...

 

Interrompo agora a narrativa para refletir com os irmãos. Sabe, quando trabalhei na Obra, descobri que a minha liderança avaliava as pessoas, da mesma forma, que no mundo, eu tinha aprendido: Pela aparência exterior e suas posses. Pelas roupas finas, e pelo dinheiro que você tem no banco. Se teu dízimo é alto, se você é da elite paulistana cristã, então para os administradores, você é um rei. Intocável.

Uma vez, no meu ministério, para excluir um homem desta elite, que vivia em adultério, batia na esposa, e era ancião da igreja, até um tapa no rosto dentro da igreja eu levei... Um homem que me disse "Ninguém teve peito para me excluir, pastor K. E se você fizer isto, eu te  destruo." Eu o excluí.

Fui chamado à Associação às pressas. O Pr. Osmar me disse, junto com o Getulio Farias: "K, seu irresponsável! E se a família dele parar de devolver o dízimo?"

Percebem onde quero chegar, amados irmãos. Eu deixei tudo para seguir meu Mestre. Ele mesmo disse: "As raposas tem seus covis, os passarinhos seus ninhos, mas Eu, meu amado K, não tinha onde reclinar a cabeça... Você quer Me seguir, K? Tem certeza?"

E Jesus me faz refletir neste momento: Por que, o seu líder maior na Terra, reclina a cabeça em uma mansão?

Do vosso servo em Cristo Jesus.

Ex-pastor K.

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