Papa Elogia Acordo Entre Católicos e Luteranos

Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação foi assinada na Alemanha

O Papa João Paulo II ontem o acordo sobre a salvação por meio da fé, assinado pelas Igrejas Católica e Luterana. Durante as orações na Basílica de São Pedro, João Paulo II disse que o acordo é "um marco histórico no difícil caminho para a união dos católicos".

A Declaração Conjunta Sobre a Doutrina da Justificação foi assinada na Igreja de St. Anna, na cidade alemã de Augsburg. Foi nessa cidade que o monge Martinho Lutero expôs, no castelo de Wittenberg, as 95 teses que deram origem à Reforma Protestante, há quase 500 anos, no dia 31 de outubro de 1517.

Participaram da cerimônia, representando as duas religiões, o cardeal Idris Cassidy, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade Cristã, e o bispo alemão Christian Krause, presidente da Federação Luterana Mundial.

Divergência - A salvação foi um dos principais pontos de divergência entre Lutero e a Igreja Católica. Os católicos acreditavam que para alcançar a salvação precisavam ter fé e praticar boas obras, conquistando, assim, "pontos no céu". Os luteranos diziam que a salvação só depende da fé e Deus não exige pagamentos em troca e concede a salvação gratuitamente.

A partir de 31 de outubro de 1999, ambas as religiões passaram a concordar com a tese de que a salvação se dá por meio da fé, mas as boas obras contribuem para a afirmação dessa fé.

Indulgências - Quando fundamentou suas teses, Lutero procurava combater o comércio de indulgências, que eram vendidas pelo papa Leão X, com o objetivo de arrecadar fundos para a construção da Basílica de São Pedro, em Roma. A Igreja Católica condenou essa doutrina e Lutero acabou sendo excomungado pelo papa.

Os católicos acusavam os luteranos de ficar indiferentes diante do sofrimento humano. Já os luteranos diziam que os católicos não tinham fé e duvidavam da graça divina.

O diálogo entre as duas Igrejas começou no início dos anos 60. Em 1967, o papa Paulo VI propôs a formação da Comissão Mista Internacional Católica-Luterana, que após 32 anos produziu a declaração assinada em outubro. Além de aproximar os cristãos, a declaração tem como objetivo combater o mercantilismo dentro das igrejas neopentecostais.

Fé - Ainda permanecem outras questões que dividem as duas Igrejas. Uma delas é a questão das fontes da fé. Os luteranos consideram as Sagradas Escrituras como a única fonte para o conhecimento da palavra de Deus, enquanto os católicos também levam em conta o magistério dos papas e os concílios. Para os católicos, existem sete sacramentos: batismo, eucaristia, crisma, matrimônio, ordem, penitência e extrema-unção. Já os protestantes admitem apenas dois sacramentos, o batismo e a comunhão sobre duas espécies: pão e vinho. A eucaristia também é fonte de divergências. Somente os católicos acreditam na transubstanciação da presença de Cristo.

Protestantes e católicos também divergem sobre a mãe de Deus. Os seguidores dos princípios de Lutero não acreditam na virgindade e na assunção de Maria, ou seja, na sua subida aos céus de corpo e alma - dois dogmas da Igreja Católica.

O Brasil tem aproximadamente 1,2 milhão de luteranos, a maioria vivendo no Sul do País. Eles se dividem em duas Igrejas. A Igreja Evangélica da Confissão Luterana no Brasil (IECLB), que faz parte da Federação Luterana Mundial, tem quase 1 milhão de fiéis e representa 95% dos luteranos em todo o mundo. A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), que tem 225 mil fiéis no País, é ligada à Igreja Luterana Sínodo do Misssouri, nos EUA. Essas Igrejas não participaram da discussão e não assinaram o acordo, porém, consideram o texto um passo muito importante para aproximar os cristãos de todo o mundo.

Fonte: Arquivo digital do jornal O Estado de S. Paulo


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