Papa Defende o Domingo e o Empenho Ecumênico em Novo Guia para os Católicos
Sábado, 06 de janeiro de 2001

O Papa João Paulo II divulgou neste sábado a Carta do Milênio, um guia para os católicos no novo milênio, em que defende a obrigatoriedade da santificação do domingo e insiste na continuidade do diálogo ecumênico com as Igrejas do Oriente, irmãos e irmãs da Comunhão Anglicana e das Comunidades eclesiais nascidas da Reforma, seguindo a linha traçada pelo Concílio Vaticano II.

No documento, ele afirma ainda que "é preciso prosseguir nesta direção, dando particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial de festa, dia do Senhor ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana. ...E, celebrando precisamente a sua Páscoa não só uma vez por ano mas todos os domingos, a Igreja continuará a indicar a cada geração o eixo fundamental da história. ...O dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja. ...A participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada batizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente."

A carta apostólica tem 82 páginas e foi editada no mesmo dia em que a Porta Santa da Basílica de São Pedro foi fechada, depois de ficar duas semanas aberta como parte do Jubileu do ano 2000, organizado pela Igreja Católica supostamente para comemorar os dois mil anos do nascimento de Jesus Cristo.

No documento, João Paulo II também fala sobre a crise ecológica, tratados de paz e o conceito dos direitos humanos fundamentais. E encerra, referindo-se a Maria como guia seguro durante o terceiro milênio. 

"Neste caminho, acompanha-nos a Virgem Santíssima; a Ela, há poucos meses, juntamente com muitos Bispos congregados em Roma de todas as partes do mundo, confiei o terceiro milénio. Ao longo destes anos, muitas vezes A apresentei e invoquei como 'Estrela da nova evangelização'. E aponto-A, uma vez mais, como aurora luminosa e guia segura do nosso caminho", disse. 

Confira abaixo e na coluna ao lado, trechos da nova Carta Apostólica de João Paulo II, referentes à observância do domingo e ao diálogo ecumênico:

A Eucaristia dominical

35. Há-de-se pôr o máximo empenho na liturgia, « a meta para a qual se encaminha a acção da Igreja e a fonte donde promana toda a sua força ».19 No século XX, sobretudo depois do Concílio, a comunidade cristã cresceu muito no modo de celebrar os Sacramentos, sobretudo a Eucaristia. É preciso prosseguir nesta direcção, dando particular relevo à Eucaristia dominical e ao próprio domingo, considerado um dia especial de festa, dia do Senhor ressuscitado e do dom do Espírito, verdadeira Páscoa da semana.20 Há dois mil anos que o tempo cristão é marcado pela recordação daquele « primeiro dia depois do sábado » (Mc 16,2.9; Lc 24, 1; Jo 20,1), quando Cristo ressuscitado trouxe aos Apóstolos o dom da paz e do Espírito (cf. Jo 20,19-23). A verdade da ressurreição de Cristo é o dado primordial, sobre o qual se apoia a fé cristã (cf. 1 Cor 15,14), um facto que está situado no centro do mistério do tempo, e prefigura o último dia em que Jesus voltará glorioso. Não sabemos os acontecimentos que nos reserva o milénio que está a começar, mas temos a certeza de que este permanecerá firmemente nas mãos de Cristo, o « Rei dos reis e Senhor dos senhores » (Ap 19,16); e, celebrando precisamente a sua Páscoa não só uma vez por ano mas todos os domingos, a Igreja continuará a indicar a cada geração « o eixo fundamental da história, ao qual fazem referência o mistério das origens e o do destino final do mundo ».21

36. Por isso, desejo insistir, na linha do que disse na Carta apostólica Dies Domini, em que a participação na Eucaristia seja verdadeiramente, para cada baptizado, o coração do domingo: um compromisso irrenunciável, abraçado não só para obedecer a um preceito mas como necessidade para uma vida cristã verdadeiramente consciente e coerente. Estamos a entrar num milénio que se anuncia caracterizado por uma profunda amálgama de culturas e religiões mesmo nos países de antiga cristianização. Em muitas regiões, os cristãos são — ou vão-se tornando — um « pequenino rebanho » (Lc 12,32). Isto coloca-os perante o desafio de testemunharem com mais força, muitas vezes em condições de solidão e hostilidade, os aspectos específicos que os identificam. Um deles é a obrigação de participar todos os domingos na celebração eucarística. Ao congregar semanalmente os cristãos como família de Deus à volta da mesa da Palavra e do Pão de vida, a Eucaristia dominical é também o antídoto mais natural contra o isolamento; é o lugar privilegiado, onde a comunhão é constantemente anunciada e fomentada. Precisamente através da participação eucarística, o dia do Senhor torna-se também o dia da Igreja,22 a qual poderá assim desempenhar de modo eficaz a sua missão de sacramento de unidade.

O empenho ecuménico

48. Depois, como não mencionar a urgência de fomentar a comunhão no âmbito delicado do empenho ecuménico? Infelizmente, os tristes legados do passado vão acompanhar-nos ainda para além do limiar do novo milénio. A celebração jubilar registou algum sinal verdadeiramente profético e tocante, mas há ainda tanto caminho a percorrer!

...Nesta perspectiva de renovado caminho pós-jubilar, olho com grande esperança para as Igrejas do Oriente, esperando que retorne plenamente aquela permuta de dons que enriqueceu a Igreja do primeiro milénio. A lembrança do tempo em que a Igreja respirava com « dois pulmões », estimule os cristãos do Oriente e do Ocidente a caminharem juntos, na unidade da fé e no respeito das legítimas diferenças, aceitando-se e ajudando-se uns aos outros como membros do único Corpo de Cristo.

Com idêntico empenho há-de ser cultivado o diálogo ecuménico com os irmãos e irmãs da Comunhão Anglicana e das Comunidades eclesiais nascidas da Reforma. O confronto teológico sobre pontos essenciais da fé e da moral cristã, a colaboração na caridade e sobretudo o grande ecumenismo da santidade não deixarão, com a ajuda de Deus, de produzir os seus frutos no futuro. Entretanto, prossigamos confiadamente pelo caminho, suspirando pelo momento em que poderemos, com todos os discípulos de Cristo sem excepção, cantar juntos com toda a nossa voz: « Como é bom e agradável viverem os irmãos em harmonia! » (Sal 133132,1).

55. Nesta perspectiva, coloca-se também o grande desafio do diálogo inter-religioso, no qual temos de continuar a empenhar-nos no novo século, segundo a linha traçada pelo Concílio Vaticano II.39 ...O diálogo deve continuar. Na condição de um pluralismo cultural e religioso mais acentuado, como se prevê na sociedade do novo milénio, isso é importante até para criar uma segura premissa de paz e afastar o espectro funesto das guerras de religião que já cobriram de sangue muitos períodos na história da humanidade. O nome do único Deus deve tornar-se cada vez mais aquilo que é: um nome de paz, um imperativo de paz. ...

58. ... Neste caminho, acompanha-nos a Virgem Santíssima; a Ela, há poucos meses, juntamente com muitos Bispos congregados em Roma de todas as partes do mundo, confiei o terceiro milénio. Ao longo destes anos, muitas vezes A apresentei e invoquei como « Estrela da nova evangelização ». E aponto-A, uma vez mais, como aurora luminosa e guia segura do nosso caminho. « Mulher, eis aqui os teus filhos » — repito-Lhe, fazendo eco à própria voz de Jesus (cf. Jo 18,26), e dando voz, junto d'Ela, ao afecto filial de toda a Igreja.

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