Ex-Teologando do Unasp Conta Sua História de Lágrima e Dor

Mais de dois anos se passaram desde que o ocorrido em minha vida teve um desfecho. Agora, só agora, resolvi escrever a fim de expressar meu descontentamento em relação a membresia, que não segue a Bíblia, e aos pastores, que não ensinam a Palavra de Deus.

Primeiramente, gostaria de dizer que estou muito deprimido e angustiado, ainda, por tudo o que me aconteceu. Talvez minhas palavras escritas não exprimam o quanto, mas podem crer que estou muito, muito deprimido. Emagreci 15 quilos; fui internado com suspeita de leucemia, etc. Desde que tudo aconteceu nunca mais fui o mesmo.
Deixemos, pois, de lado a introdução e passemos ao ocorrido. (Gostaria de dizer que, apesar de minha línguagem ser literata o fato é verídico).

Contava o ano de 1999, um ano particularmente especial para todo o estudante de teologia, pois antecede o ano das Conferências, e pela primeira vez o grupo de estudantes seria colocado num desafio real, enfim, seriamos realmente testados para o ministério (o qual, diga-se de passagem, sempre sonhei desde que entrei na IASD).
Entrei o já referido ano no "gás", como se diz a gíria. Estava com a corda toda, pois o ano seguinte seria um ano de desafios reais e produtivos. Não podia esperar para que o próximo ano chegasse. Eu era só felicidade.

Nunca, em toda a minha carreira cristã, tinha pregado tanto e tinha sido tantas vezes convidado a subir no púlpito. Estava, até então, sendo um ano maravilhoso; meus preparativos para o futuro e tão sonhado ministério já tinham começado. Estava trabalhando duro, estudando e preparando lindas mensagens bíblicas. Afinal, dali a dois anos seria um pastor da Igreja de Cristo, e precisava estar preparado. Só Deus sabe o quanto lutei e lutei e lutei, para atingir um elevado grau de tudo que era necessário para o ministério.

Em dois anos de seminário, nunca havia colado em provas, nunca havia emitido um cheque-sem-fundo (gíria para relatórios de leitura falso). Era e ainda sou uma pessoa de moral ilibado. Ninguém, absolutamente ninguém, poderia falar de minha vida.

Mas Satanás tem das suas...

Como ia dizendo, 99 estava maravilhoso para mim, trabalho, luta, oração. Era, e este era é bem mais passado que o mais-que-perfeito, uma pessoa feliz, alegre e de um sorriso sempre largo no rosto. Ninguém poderia dizer que me tornaria o que sou hoje, triste, amargurado, cabisbaixo, etc.

No primeiro semestre, tudo correu às mil maravilhas, até aí nada que me pudesse ferir o coração e tornar-me o desventurado de hoje. Fiz, como diz a canção e para minha desgraça pessoal, um milhão de amigos.

Amizades que ao meu ver eram sinceras e gratas, que podiam me acolher na dificuldade no íntimo de sua alma. Acha-me, com essas novas e precisas amizades, a pessoa mais feliz do mundo. Como fui ingênuo! Pensei que a igreja era como no mundo onde eu podia contar com todos, sem medo.

Bem, meu desdito começa aqui, em ter um milhão de amigos. E eu pensei que bem mais forte, com eles, poderia cantar.
No meio desse milhão de amigos encontrei uma em especial, é uma grande cantora, sua voz é muito poderosa; apesar de ter feito comigo o que fez, tenho que congratula-la pela maravilhosa voz que Deus a deu.

E é com essa pessoa que se desenrola toda a minha história de lágrimas e dores.

Fiz, com essa pessoa, uma amizade sincera, pelo menos ao meu ver. É uma pessoa interessante e legal. Infelizmente surpreendente.

Com o passar dos meses, era o primeiro ano dessa minha amiga no IAE, fomos ficando muito amigos. A amizade foi crescendo e crescendo e crescendo, até que nos sentimentos dela, algo foi crescendo a mais e creio não ser amizade, pois suas atitudes não para comigo se modificaram, mas, como? pensava eu, de minha parte não havia nem sequer alusão a namorarmos. Com ela era apenas amizade, de minha parte, a mais sincera. Não podia ser, era apenas "encanação". Até que um dia...

Um amigo dela (ele tem uma participação muito grande na minha desgraça) chegou até mim confirmando minha "encanação". A cantora estava realmente apaixonada por mim. Porém não era recíproco, eu estava interessado, sim, mas pela amizade que ela poderia me oferecer.

O semestre acabou, não a vi por quase dois meses, porém seus telefonemas eram freqüentes. Não queria nada com ela, mas não seria ríspido nem tampouco a destrataria, pois nunca havia/haverei de destratar alguém, minha criação não permite assim.

Uma grande salto no tempo e...

O segundo semestre de 1999 começou. (Dói-me muito relembrar essa página da minha história, tão viva e tão forte ainda em minha mente. O título daquele livro de História poderia ser o título desse meu desabafo, "1999 um ano que não acabou"). Agora aquela tensão do início do ano estava muitas vezes maior, 2000 estava às portas e meu coração a mil, principalmente por saber que trabalharia na equipe do Pr. Hanry Feihaben, um dos maiores pregadores adventistas do século. Tudo passava por minha cabeça, como seria gratificante ensinar de Cristo as outras pessoas. Falo a verdade quando digo que não faria pensando em números de batizados. Não conheço ainda nenhum coração mais alegre que o meu àquela época.

Agosto era a época, não posso precisar os dias, mas era agosto. Só me lembro exatamente da punhalada pelas costas que quase me tirou a vida, e tirou. Desde que o fato se deu, não sorri mais como antes, nem tampouco tive a mesma alegria.

Eu e a cantora conversávamos sobre tudo, falávamos, amigavelmente, sobre os mais diversos assuntos. Eu, particularmente, gostava da abordagem que ela fazia sobre os temas, é uma pessoa realmente inteligente.

Começamos, então, a conversar sobre a sociedade brasileira, que é realmente uma sociedade atípica, pois, embora miscigenada, o racismo é muito forte. Citei alguns casos de racismo que havia visto, contei-lhe algumas cenas que presenciei, como o fato de filhos de branco e negros serem vitimas de racismo, etc. Foi uma conversa até onde eu sei muito boa e produtiva. Porém ela adulterou minha intenção, levando-a para um lado em que a educação que eu recebera de meus pais não permitia.

Num determinado dia de setembro, fui processado por injúria e perturbação da paz. Não podia crer que aquilo estava acontecendo comigo, pensei no que havia feito de errado e não consegui enxergar. Toda minha família, bem como alguns líderes da Igreja se colocaram para resolver o caso, porém, inicialmente, sem sucesso. Desesperado e deprimido, já não comia mais, era como o réu à espera do algoz. A única coisa que conseguia ver era quilômetros e mais quilômetros de túnel sem nenhuma luz. Senti-me como Moisés em Êxodo 14, num verdadeiro beco sem saída.

Alguns dias ainda se passaram até a resolução definitiva do caso, mas a história não para por aí. Lembra-se do amigo que veio me dar um "toque". Pois é, ele tem parte fundamental na história, um amigo que se revelou Brutus.

Um dia ele chegou até mim com ar acusador e me disse:

-- Você conhece uma delegacia de polícia?

-- Sim, disse eu sem entender a razão da pergunta. Ao que me retornou Brutus.

-- Pois é eu acho que você vai ter que ir para lá, respondeu-me com ar satânico.

-- Por quê? Você quer uma dupla para evangelizar na cadeia?

-- Você vai ficar lá, retorquiu-me.

-- Posso saber por quê?

-- Você é um racista, etc, etc, etc.

Definitivamente estava entendendo a história. Esse futuro pastor da Igreja disse-me que iria conversar com ela para que não me processasse, mas a tristeza chegou após sua suposta conversa com nossa amiga. Minha conversa com ele devia ter sido numa sexta-feira, pouco tempo depois ela foi a DDM fazer a queixa.

Que horror! não desejo para um cão o que passei naquele período. Uma coisa de tudo foi boa, aprendi, à viva força, a orar. Orava ininterruptamente, era como a viúva diante do juiz incompassível. Porém meu advogado era mais forte do que o desejo dela e de Brutus contra mim. Um pouco de pressão aqui, um pouco de pressão ali, e o processo foi retirado, enfim.

Pensei que isso só estava entre um pequeno grupo, ledo engano, Brutus contra mim se fizeram em todas as partes, mais uma vez fui atacado à falsa-fé. Pude, então, a partir disso notar que estava cercado, não de irmãos de fé, mas, sim, de madrastas de fé. Com azáfama, a notícia correu, fazendo com que meu nome despencasse. Olhos e mais olhos se puseram contra mim, fazendo com que o SALT se tornasse uma grande babilônia. Chorei dias e mais dias, por tanta coação contra mim, sofri, como gosto de dizer, um estupro psicológico que ainda me marca. Essa pressão, ou melhor, coação que sofri na sala de aula, obrigou-me a ter que abandonar o curso, pois de outra maneira não poderia manter a sanidade mental.

Algum tempo depois, por burrice minha, mas à época achava que estava fazendo o certo, fui falar com um pastor muito amigo dela, o qual achei sinceramente que estaria neutro na história. Mais uma vez ledo engano. Mas dessa parte não quero tocar, vai ficar apenas na minha memória.

De tudo isso, cheguei a duas importantes conclusões:

1. Não dá para confiar em ninguém; e,

2. Só Deus salva.

Dois anos se passaram, minha turma se formou e mais uma vez chorei ao ver meu futuro destruído, acabado. Vi meus colegas receberem chamados, tornarem-se pastores, dirigirem igrejas, distritos, departamentos e eu, e eu... Por um golpe do destino, seja lá o que for, não pude realizar meu sonho e não o realizarei, pois não é daqui a dois anos que me formarei, pois a que era para ser minha formatura já aconteceu.

Tive que mudar minha vida, meus ideais, minha forma de pensar, meus gosto, enfim, eu não sou eu, sou uma pessoa fabricada por outras que não vêem outras com misericórdia. De uma coisa estou certa, sempre serei um peso na consciência dessas pessoas, estarei com elas todos os dias, para sempre. -- Luís Martini

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