Ataques Terroristas Provocam Aumento da
Religiosidade
A comoção pelo ataque provocou em Nova Iorque um súbito aumento da
religiosidade. "Os templos estão abarrotados quando se celebra missa e
som freqüentados por muita gente durante todo o dia", afirmou o sacerdote
argentino Carlos Mullins, quem há mais de 25 anos se desempenha em uma paróquia
do nova-iorquino bairro do Bronx.
Em diálogo telefônico dos Estados Unidos com Clarim, Mullins contou que
"a gente chega traumada às Iglesias, sobre tudo pelas pessoas que
viram cair das torres". Mas não só por isso. Chegam também conflictuados,
conforme observa o sacerdote, porque "sentem que, além disso, derruba-se
o mundo de segurança no que eles acreditavam viver até agora".
Ontem, a afluência de gente aos templos teve uma motivação adicional:
cumpria-se uma jornada de oração pelas vítimas dos atentados da terça-feira,
convocada pelo presidente George Bush. As quatro missas que se celebraram na
igreja do Mullins (São Felipe Neri) oficiaram-se a templo cheio. A
tradicional catedral de São Patrício também esteve muito concorrida.
O sacerdote contou que "a gente está muito deprimida, há muitas pessoas
que não podem dormir, mas os meninos são os que mais padecem".
Adiciona que, além disso do atentado em si, impressiona "ver pegas nas
paredes e as árvores da cidade fotos de quem está desaparecidos".
Relatou que, em suas tarefas pastorais, tocou-lhe atender aos pais do jovem
paramédico argentino Mario Santoro, quem chegou às torres pouco depois das
explosões. E que, como seu companheiro entrou em uma delas e não voltava,
decidiu ingressar também ele justo quando os edifícios se derrubaram.
"Mas esperamos que esteja apanhado em um dos seis subsolos das
torres", disse.
Mullins informou, além disso, que entre os desaparecidos se conta o capelão
dos bombeiros, quem estava dando a extrema-unção ao pé de uma das torres
quando estas se derrubaram. Junto com o sacerdote, também ficaram apanhados 300
bombeiros. Nesse sentido, sublinhou que "foi admirável a resposta solidária
da gente".
Também observou que o atentado "serve para elevar o espírito patriótico".
E demarcou: "Todos os automóveis levam uma bandeira nacional".
Contudo, considerou que embora "há muita tristeza na gente, não vejo sede
de vingança". Em troca, opinou que sim a vê no governo: "O próprio
Bush está falando da primeira guerra do século XXI", assinalou.
Mullins sublinhou, além disso, sua preocupação por certo sentimento
antimusulmán que está percorrendo Nova Iorque. E exemplificou: "Nesta
cidade muitos taxistas são árabes, paquistaneses, enfim, gente de países islâmicos
que hoje circulam com medo porque os olham mau e até os insultam, mas
eles não são assassinos".
http://www.clarin.com/diario/hoy/i-02303.htm
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