Correio Braziliense Detalha Possível Renúncia de João Paulo II


Religião
Viagem do papa à Polônia retoma boatos de renúncia


Jornal tcheco diz que João Paulo II pode renunciar em agosto, durante visita a seu país natal. Em Roma, crescem rumores sobre existência de carta-testamento
 


Da Redação
Com agências

O papa João Paulo II pode renunciar ao pontificado em agosto, quando visitará Cracóvia, na Polônia. Segundo o jornal tcheco Tyden, que divulgou a notícia, a decisão tem amparo entre os religiosos mais próximos ao pontífice e a possibilidade é considerada ‘‘uma certeza próxima de 100%’’ por ‘‘religiosos poloneses que mantêm estreitos vínculos com o papa’’.

Os indícios de uma possível renúncia de Karol Wojtyla, 82 anos, aumentam a cada viagem cancelada ou a cada vez que ele tropeça nas palavras. Ontem, o Vaticano informou que a viagem de João Paulo II à Croácia, marcada para setembro, foi cancelada. Oficialmente, a Santa Sé disse que o papa iria canonizar Ivan Merz, mas como o processo de santificação não ficaria pronto até aquela data, os planos foram adiados.

Outro fato aumentou as especulações. João Paulo II recebeu ontem o presidente boliviano, Jorge Quiroga, em seu apartamento particular no terceiro andar do palácio apostólico. Foi a primeira vez em décadas que um visitante especial não foi recebido na biblioteca da Santa Sé, que funciona como sala de visitas oficial do Vaticano. Durante os 20 minutos de audiência, o papa permaneceu sentado — inclusive ao despedir-se de Quiroga.

Em maio passado, dois importantes cardeais, o alemão Josef Ratzinger e o hondurenho Oscar Andrés Rodríguez Maradiaga, levantaram a hipótese de que o pontífice, 82 anos, poderia renunciar a qualquer momento. Segundo fontes eclesiásticas polonesas, se João Paulo II deixar seu posto por vontade própria, pode se retirar em um mosteiro na Polônia.

Os rumores de renúncia têm sido alimentados com a notícia de que existe uma carta de renúncia já pronta, que João Paulo II teria entregue a seu secretário pessoal, Stanislaw Dziwisz. José María de Vera, diretor de imprensa e informação da Companhia de Jesus, em Roma, considera ‘‘verossímil’’ que tal documento exista.

Com base na experiência dos jesuítas, ele afirma que ‘‘é costume da Companhia de Jesus que o chefe da congregação deixe um carta fechada a seu secretário pessoal, onde informa as medidas a serem tomadas caso entre em estado de coma’’, exemplifica. De Vera acredita que essa é uma medida de precaução ‘‘razoável’’, pois em instituições dirigidas por uma única pessoa, com cargo vitalício, não existe outra forma de se evitar esse tipo de problema.

O código de direito canônico, que em parte se ocupa da sucessão no comando da Igreja, não prevê qualquer medida concreta no caso de o papa perder as faculdades mentais. Na falta de legislação específica, é razoável acreditar que o pontífice decidiu por conta própria o que deve ser feito, se e quando a situação se fizer presente.

A existência ou não do testamento secreto divide opiniões na igreja. O escritor e biógrafo do pontífice, Vitorio Messori, considera que não há nada de esquisito na existência da carta. Especialistas em Vaticano e religiosos compartilham da mesma opinião.

Elio Guerriero, diretor da revista Communio lembra que existe um precedente. O papa Paulo VI também deixou uma carta-testamento a seu secretário pessoal, que deveria entregar sua renúncia em caso de invalidez mental. A carta não chegou a ser aberta, pois Giovanni Battista Montini teve morte natural em agosto de 1978.

Mas nem todos acreditam que Karol Wojtyla esteja pensando em renunciar ao papado. ‘‘É uma possibilidade quase inviável’’, afirma um vaticanista que lembra dos problemas que a simultaneidade de dois papas — um na ativa e outro aposentado — poderiam causar na cabeça dos fiéis. ‘‘É pura fantasia’’, sentencia o teólogo do papa, monsenhor George Cottier.


Os sucessores

Na medida em que crescem os boatos sobre a renúncia do papa João Paulo II, aumentam também as especulações sobre seu sucessor. Muitos analistas e religiosos acreditam que o próximo pontífice possa ser latino-americano ou até africano, regiões que nunca elegeram um papa. São nomes fortes o do cardeal brasileiro Cláudio Hummes, arcebispo de São Paulo, e do hondurenho Oscar Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, bem como do nigeriano Francis Arinze. Mas há muita aposta em mais um papa italiano, que poderia ser o cardeal Carlo Martini, de Milão, ou o conservador Angelo Sodano. Entre os europeus com chances está o cardeal espanhol Eduardo Martínez Somalo e o tcheco Miloslav Vlk.


A resistência do missionário

Lola Galán
El País

A Igreja Católica atravessa períodos cíclicos de torpor, coincidindo, naturalmente, com o final dos pontificados. Desta vez, porém, a incerteza de fim de reinado é agravada pelo insólita personalidade de João Paulo II.

Seu destino de papa mensageiro, missionário para alguns, grande ator para os outros, o faz continuar planejando viagens apostólicas pelo mundo mesmo que suas pernas, torturadas pela artrose, não o sustentem mais. Mesmo que a saliva se acumule na garganta e o impeça de pronunciar palavras e os músculos se neguem a sustentar a cabeça. Cardeais de seu séquito, bispos e especialistas em Vaticano coincidem ao afirmar que o papa continuará viajando apesar de suas condições.

E, no entanto, sua atividade frenética, que continua a programar viagens, não é contraditória com a hipótese de uma carta de renúncia. Karol Wojtyla quer cumprir logo com a missão que a Igreja lhe deu. Como ele mesmo destacou: ‘‘Vou visitar igrejas e nações distantes porque faz parte do meu trabalho, para promover a unidade de todo o povo de Deus’’. Ao menos, enquanto o Mal de Parkinson, do qual padece, lhe permita. Quando a mente não mais responder, o pontífice poderia pôr em prática seu outro plano, a renúncia.

‘‘O sofrimento é, de algum modo, sua profissão. Mostra-nos que uma pessoa anciã e doente continua tendo significado para o mundo’’, opina o cardeal alemão Walter Kasper, que acompanhou João Paulo II em sua última viagem ao Azerbaijão e à Bulgária, e se prepara para acompanhá-lo nas próximas — porque o pontífice não pára.

Poder

No dia seguinte à sua volta a Roma, seu secretário pessoal, Stanislaw Dziwisz, confirmava que João Paulo II visitaria a Polônia, como fora anunciado, entre os dias 16 e 19 de agosto. Afirmações que valem por todas as dúvidas da Cúria porque Dziwisz, seu secretário pessoal desde os tempos de Cracóvia é, agora, o personagem mais poderoso do Vaticano. É o único, junto com a equipe médica que controla Wojtyla 24 horas por dia, que está em contato permanente com o pontífice.

‘‘Dziwisz é quem decide as viagens’’, dizem várias pessoas que conhecem o emaranhado do Vaticano, ‘‘porque conhece os desejos do Papa e sabe interpretar o que ele realmente quer’’.

Os ideais do Papa e seus desejos de proclamar o Evangelho estão estreitamente ligados, desde o primeiro dia de seu papado, às câmaras de televisão. E esta dimensão cênica, que transformou Wojtyla em um dos personagens mais famosos do planeta, é a que se volta agora contra ele: a TV capta todos os dias seu sofrimento com realismo impiedoso.

Fonte: http://www2.correioweb.com.br/cw/EDICAO_20020604/pri_mun_040602_164.htm


Jesuítas criticam imprensa dos EUA

Cidade do Vaticano - Uma influente revista dos jesuítas próxima ao Vaticano criticou a imprensa americana, pelo "mórbido e escandaloso" tratamento por ela dado ao escândalo de abuso sexual de alguns sacerdotes, indicando que o fato reflete uma crescente atitude anticatólica nos EUA.

O artigo, que será publicado no sábado na revista Civiltà Cattolica, disse que não se trata de minimizar o problema, que considerou "uma tragédia" para a Igreja Católica. Mas perguntou por quê a Igreja Católica americana foi submetida "ao fogo cruzado das suspeitas, acusações violentas, recriminações e processos judiciais que exigem milhões de dólares em indenização, como se o fenômeno da pedofilia fosse restrito ao clero católico".

O artigo denuncia que se está espalhando pelos EUA uma atitude "anticatólica" e "antipapal" desde que o papa se pronunciou contra a Guerra do Golfo de 1991, e pediu "justiça e não vingança" após os atentados de 11 de setembro e na recente onda de violência no Oriente Médio.

O artigo destacou a grande quantidade de jornalistas que assistiram à cúpula de cardeais em abril na Santa Sé. Essa mobilização, indicou, deu a impressão de que "o assunto esteve acompanhado por uma curiosidade mórbida e escandalosa".

Fonte: http://www.estadao.com.br/agestado/noticias/2002/mai/31/223.htm


Religião
Igrejas evangélicas usam escândalo católico para atrair hispânicos

Daniel J. Wakin
The New York Times
Em Nova York (EUA)


Até agora, os escândalos de abuso sexual envolvendo padres não provocaram amplas deserções entre os hispânicos, uma das bases da Igreja Católica Romana nos EUA. As denúncias serviram, no entanto, para encorajar muitos evangélicos a afirmar que seu caminho era o correto.

"Eu estou com a verdade, mas sinto-me triste por eles, porque essas pessoas estão na escuridão", disse Juanita Gonzalez, 50, referindo-se aos católicos. Enquanto falava, os fiéis dançavam e batiam palmas, ao som das congas e piano elétrico, na Igreja Pentecostal La Senda Antígua, no Harlem. "Se isso está acontecendo com essas pessoas, é porque estão na escuridão".

Nos últimos quatro meses, enquanto os católicos publicamente debatem e sofrem com os escândalos de sua igreja, a maior parte das outras denominações cristãs ficou distante, talvez conscientes de um certo aforismo sobre pedras e casas de vidro.

Em geral, os evangélicos dizem não ter interesse em capitalizar o problema do catolicismo. Entretanto, quando perguntados, não hesitam em localizar as raízes do escândalo no dogma católico. Alguns vão além disso. Segundo alguns os padres, vizinhos pregadores estão jogando o escândalo na cara dos católicos. Outros que estudam o mundo evangélico sugerem que o escândalo será usado como uma vantagem, na longa disputa entre as duas vertentes religiosas pelas almas latinas.

A fé dos latinos é de especial preocupação à Igreja Católica, dado o sucesso que as igrejas evangélicas nos EUA e na América Latina tiveram em converter católicos.

Segundo uma estimativa, que não foi refutada pela Conferência dos Bispos Católicos dos EUA, até 600.000 católicos latinos deixam a Igreja por ano, passando para religiões evangélicas. O êxodo resulta de uma falta de padres que falem espanhol, pelo grande tamanho das paróquias, comparado com pequenas igrejas aconchegantes evangélicas, e pelas escolhas religiosas oferecidas aos imigrantes que saíram de países dominados por católicos. Milhares de igrejas evangélicas latinas ocupam o cenário urbano, desde Assembléias de Deus até às minúsculas congregações espalhadas pelo Harlem e outros bairros.

Por outro lado, com altas taxas de natalidade e de imigração, os hispânicos foram responsáveis por 71% do crescimento da Igreja Católica, nos últimos 40 anos. Estimativas colocam os hispânicos entre 17 e 35% da população católica do país.

"Pelo que ouvi dos evangélicos hispânicos, essa parece ser uma boa oportunidade para proselitismo", disse Dale T. Irvin, professor de Cristianismo Mundial do Seminário Teológico de Nova York.

Dr. Eldin Villafane, professor do Seminário Gordon-Conwell, conversa freqüentemente com pastores evangélicos latinos. Muitos estão tristes com o escândalo, disse ele, mas também reafirmaram sua rejeição à estrutura hierárquica católica e seu celibato obrigatório.

No sábado, atrás da fachada de tijolos vermelhos da igreja da rua 119 Leste, podia-se distinguir quais atrativos os hispânicos criados como católicos romanos encontravam na Igreja Evangélica. A igreja, entre a segunda e terceira avenida, foi construída há 129 anos por luteranos alemães e, hoje, abriga La Senda Antígua e duas outras congregações hispânicas.

Visitantes eram recebidos com apertos de mão calorosos. Os fiéis batiam palmas e cantavam com força: "Liberdade! Liberdade é encontrada no espírito do Senhor!" Um evangélico visitante atravessou o salão e pregou a glória de Jesus Cristo.

Também ficou clara a postura de muitos latinos em relação aos escândalos envolvendo os padres.

O celibato obrigatório é a causa do abuso, disseram muitos pastores e evangélicos latinos em entrevistas; a Igreja Católica é culpada, porque impôs um modo de vida que não é sancionado pela Bíblia. Apesar de muitos católicos serem boas pessoas, esse julgamento é um sinal de Deus que estavam no caminho errado, dizem.

"A Bíblia diz claramente que Deus fez primeiro o homem e, depois, viu que o homem ficou solitário e teve que criar a mulher", disse o marido de Gonzalez, Jose, que trabalha com manutenção e mora no Bronx.

O celibato dos padres viola esse princípio, disse. "Eventualmente, o mal está ali e vai colocar a idéia na mente do homem de abusar dos mais fracos, ou seja, as crianças", disse ele.

No balcão da igreja retangular, com seus bancos marrons arranhados e filas de carrinhos de bebê, Mery Cruz, 24, disse que a Bíblia previu o que está acontecendo hoje na igreja Católica.

"Segundo a Bíblia, nos últimos dias, os homens cometerão pecados", disse ela. "A Bíblia nos diz que, para que o homem não peque, ele precisa se casar".

O pastor Roy Bautista, quando perguntado por que a Igreja Católica estava enfrentando esse problema, respondeu: "Estamos nos últimos dias. Deus quer dar a salvação aos escolhidos. Deus quer mostrar para as pessoas quando não estão sendo boas. Deus quer mostrar para elas o caminho certo".

Segundo Jim Phegley, que supervisiona trabalhos em línguas estrangeiras da Missão Capela Go Ye, de Nova York, que estabelece igrejas evangélicas, os pregadores evangélicos "falarão com mais força contra a Igreja Católica". Segundo ele, para alguns católicos hispânicos, o escândalo sexual será "mais uma causa para uma busca constante, provavelmente para longe das igrejas católicas".

Vários pastores católicos na região de Nova York disseram que seus paroquianos haviam se sentido incomodados com o que seus vizinhos evangélicos vinham dizendo. Em uma reunião da Igreja St. Jerome, "Uma das coisas discutidas foi a chateação dos protestantes evangélicos esfregando o escândalo no nariz dos católicos", disse o reverendo John Grange.

Na igreja de St. Luke, que tem uma grande população latina, um pastor assistente disse em sua homilia, há vários meses, que os evangélicos estavam telefonando aos paroquianos e pedindo que saíssem da igreja, citando o escândalo. Em uma reunião de terceira idade na Igreja de Saint Cecília, no Harlem do Leste, houve reclamações que os vizinhos estavam dizendo "Estão vendo só", disse o pastor, reverendo Francis Skelly. "Eu disse, 'Façam o de sempre - simplesmente ignorem'", disse ele. Skelly perguntou-se porque o pastor Edwin Lopez, que fundou La Senda Antígua há 10 anos, discutira a questão dos católicos com tanta profundidade em seu popular programa de domingo pela manhã, na estação de rádio de língua espanhola Wado-AM.

Em entrevista em sua, casa em um subúrbio de Phoenix, Lopez disse que estava somente tentando ajudar seus ouvintes a entenderem que o abuso sexual resultara do celibato dos padres. (A igreja refuta o argumento).

"Esse escândalo vai ajudar muitas pessoas a mudarem da Igreja Católica para uma igreja cristã não católica", disse Lopez.

Leslie Colon, 28, secretária de Valley Stream, NY, associada à Igreja Tabernáculo de Cristo em Glendale, Queens, disse que não se alegrava com o mal alheio. Sua única reação era rezar pelos que sofriam. Muitas vezes, porém, ela mencionou o escândalo ao convidar amigos para sua igreja.

"Você não precisa acreditar nos homens'", disse ela a seus amigos. "Deixe Deus te guiar".

Tradução: Deborah Weinberg

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