Debate sobre Justificação pela Fé: Diferenças entre Natureza e Inclinação

Aos irmãos em Cristo...

Iniciamos esta pedindo desculpas por não escrever "ainda" a resposta ao último artigo do Azenilto, porque em primeiro lugar não nos é fácil, dada nossas limitações, (não sou professor ou teólogo) e também porque nosso tempo é realmente escasso. Mas, brevemente estaremos remetendo a resposta.

Por ora, gostaríamos apenas de colocar nossa posição no que diz respeito ao artigo do irmão Silvio, informando que é com alegria que vejo sua posição no que diz respeito às declarações de Paulo, sempre tive de forma clara que o Paulo que se manifesta como "miserável homem que sou", era um homem já convertido, embora nunca tenha lido uma afirmação específica a esse respeito.Dos livros que já lí, sempre tive a impressão que os autores o colocam como um homem ainda não convertido.

Ainda assim, no que diz respeito às suas declarações sobre as controvérsias que a seu ver existem no Espírito de Profecia sobre a questão da natureza de Cristo, permita-nos considerar os textos que o irmão usa, tendo como sub-título:

1. Afirmando que Cristo NÃO tem uma natureza pecaminosa

"Devemos ser cuidadosos, extremamente cuidadosos sobre como tratamos a natureza humana de Cristo. Não devemos apresentá-Lo diante do povo como um homem propenso ao pecado. Ele é o segundo Adão. O primeiro Adão foi criado puro, inocente, sem uma mancha de pecado sobre si; era a imagem de Deus. Poderia falhar, e falhou ao transgredir. Em virtude do pecado, sua posteridade [a de Adão] nasceu com propensões inerentes para a desobediência. Mas Jesus Cristo foi o unigênito filho de Deus. Ele tomou sobre Si a natureza humana, e foi tentado em tudo, como a natureza humana é tentada (...), mas em nenhum momento houve nele [Jesus] qualquer tendência má. Ele foi assaltado por tentações no deserto, da mesma forma como Adão foi tentado no Éden." - SDABC, vol. 5, págs. 1128 e 1129 [ênfase suprida]

"Jamais, por qualquer maneira, deixemos a mais leve impressão nas mentes humanas de que qualquer mancha, ou inclinação para corrupção, repousou sobre Cristo, ou que Ele produziu corrupção (...), Seja cada ser humano advertido do perigo de fazer de Cristo um ser humano como qualquer um de nós, pois isso não pode ser." - SDABC, vol. 7, pág. 912

Resposta: Inclinação: Inclinar-se a, ceder a, propensão natural para alguma coisa, tendência, fazer pender. É claro que todas estas palavras estão intimamente ligadas, são sinônimos, e tem algo em comum, todas elas são aquilo que eu herdei naturalmente como desejos ou gostos. Desejo não é pecado, gosto não é pecado. Se não houvesse desejo, não haveria tentação, são passivas, podem ou não ter expressão em algum momento após meu nascimento, mas de maneira nenhuma são a minha natureza. Não nos é atribuída culpa sobre elas.

De maneira nenhuma representam o que eu sou, só representarão o que sou, a partir do momento que elas aflorarem, forem concebidas. Ex: Uma criança pode ter tendências, inclinações ao homossexualismo, mas isso não faz dela um homossexual, no momento em que ela decidir agir conforme esta inclinação, dando "luz" ao desejo latente que está preso no seu "interior", e assume esta condição, ele passa a ser um homossexual de fato.

Assim, o primeiro Adão foi criado puro, (sem propensões, inclinações, tendências, nem em sua carne e nem em sua mente para o pecado), inocente, sem uma mancha de pecado sobre sí; era a imagem de Deus. Poderia falhar, e falhou ao transgredir. Em virtude do pecado, sua posteridade (a de Adão), nasceu com propensões inerentes para a desobediência. Mas Jesus Cristo foi o unigênito filho de Deus. Ele tomou sobre Sí a natureza humana, e foi tentado em tudo, como a natureza humana é tentada(...), mas em nenhum momento houve nele (Jesus) qualquer tendência má.

Natureza: "O curso comum e regular das coisas, a ordem natural." A natureza, essa sim é o que eu sou. Exemplo: Uma urtiga é de natureza vegetal, logo, sua tendência natural é dar espinhos, dando ou não espinhos ela será para sempre de natureza vegetal, o que se pode esperar de seu curso natural é que ela dê espinhos, mas ainda que não aflorem espinhos de seu interior, ainda assim ela será uma urtiga.

Ocorre que se ela não der espinhos, ela estará quebrando "a ordem natural" de sua espécie (natureza) que é a de dar espinhos. Se ela der espinhos, estará tão somente dando "luz" a aquilo que naturalmente se esperava dela, o não consumá-lo, faria desta urtiga uma urtiga especial e totalmente diferente de qualquer urtiga que se tenha conhecimento, de tal maneira que hoje estaríamos provavelmente discutindo se ela realmente é uma urtiga.

Possivelmente os cientistas estariam tentando achar um estado intermediário entre sua natureza vegetal espinhenta e alguma outra planta que não tivesse espinhos. Assim, a inclinação natural de brotar espinhos na urtiga não faz dela um vegetal, o que a faz vegetal é ela ser de natureza vegetal. O espinho naturalmente revelaria sua condição de urtiga, mas sua ausência não muda o fato de que ela continue sendo uma urtiga, de natureza vegetal, não mineral e nem animal.

Jesus, a Urtiga

O texto diz que em nenhum momento houve nele (Jesus) qualquer tendência má. Ele foi assaltado no deserto da mesma forma como Adão foi tentado no Éden".

Eva era um ser de mente espiritual e corpo espiritual. Sua mente desejava somente as coisas boas, e seu corpo não desejava nada que era ruim. Não havia conflito entre o que sua mente queria e o que o seu corpo desejava. Em um dado momento, Satanás consegue incutir o desejo, e a mente começa a desenhar o pecado, condescendendo com a idéia, formatá-lo, e quando este aflora, todo o seu corpo irá, em consequência disso passar por um processo de transformação, de espiritual para carnal, assim como as plantas que passarão por uma metamorfose onde lhes brotarão "cardos e abrolhos" e também os animais que terão ferrões (abelhas, escorpiões) dentes caninos (carnívoros hoje), e de algum modo todos receberão um elemento de defesa, que até então não era necessário.

Satanás se jactava de que seria relativamente fácil, já que havia feito pecar alguém que estava em condições muito melhores para suportar as tentações (Adão). Mas Jesus foi, neste aspecto, esta (com reverência o dizemos) urtiga única, que embora assumindo a natureza vegetal, da qual todos poderiam esperar que aflorasse o pecado. Foi, repetimos esta urtiga única que embora assumindo a natureza vegetal da urtiga, não permitiu em nenhum momento que os espinhos, que Satanás insistia através das tentações que aflorassem, fossem concebidos. "Condenou o pecado na carne."

Quando Satanás lhe mostrou a beleza de Jerusalém, ele desviou seu olhar da cena, para que a mente em nenhum momento pudesse abrigar o menor pensamento em resposta a ação do inimigo. O pecado na verdade é a reação (o conceber) de nossa parte à ação (tentação) de Satanás em nos sugerir o mesmo. Por isso o pecado não pode ser explicado e não tem desculpa. Pudesse ser explicado e haveria uma desculpa para ele, Cristo, nosso perfeito exemplo, condenou o pecado na carne, pois sua mente espiritual jamais deixou que o corpo carnal, ainda que por um milésimo de segundo pudesse dominar os desejos.

É nesse ponto que devemos ser extremamente cuidadosos sobre como tratamos a natureza humana de Cristo. É por isso que não devemos apresentá-lo diante do povo como um homem propenso ao pecado. Quando o texto fala que a posteridade de Adão (e Cristo está incluído) está dizendo que Cristo tinha tinha tendências (propensões) hereditárias, não cultivadas, o que não tem sido o nosso caso, que temos tanto umas quanto as outras. Sua natureza humana herdada (carnal) tentava obter o controle, mas sua mente espiritual jamais permitiu que isso ocorresse.

Bendita troca!

Ocorre que quando aceitamos a Jesus como nosso Salvador, ele não nos concede sua natureza carnal, esta ele recebeu de nós, esta já é nossa por herança de Adão, mas, (maravilhoso Salvador), na verdade ele nos propõe uma troca, assumiu nossa natureza carnal, com tudo o que ela representa, e em troca nos dá sua mente espiritual. Por isso é que nenhum de nós tem desculpa para pecar, e também por isso é que ele nos diz que aquele que nele crer, maiores coisas que Ele próprio fará. Uma troca totalmente injusta na realidade (para Ele), mas devemos ter em conta que ainda que não tenhamos nenhum caso apenas (excetuando Cristo), onde a lei tenha encontrado pleno cumprimento, ainda que Enoque tenha sido trasladado com base no sacrifício de Cristo.

Ainda que aparentemente 6000 anos de pecado tenham nos apresentado apenas um só perfeito como a lei requer, devemos ter sempre em mente que mesmo que a única nota que o céu possa aceitar seja o 10, todos aqueles que, ao aceitá-lo como Salvador, dão o melhor de si, na tarefa de representar o Seu caráter, embora chegando ao final de sua vida com a nota 0,0, receberão de Deus a aprovação, pois Ele não considera o número de obras que fazemos, e sim, com quanto amor as fazemos.

Isto no entanto não equivale dizer que os perfeitos o serão pelo sangue de Cristo apenas, embora o perdão dos pecados e a salvação sejam dadas única e exclusivamente pelo sangue de Cristo, uma vez que sem derramamento de sangue não há remissão de pecados, a perfeição é alcançada pela maravilhosa combinação do sangue de Cristo (sua morte imputada a nós, como nosso substituto) aliada à sua vida (não só a que viveu quando aqui esteve, a qual nos é comunicada continuamente, mas à sua vida hoje, como nosso sumo sacerdote e advogado, no processo de purificação do santuário no céu, que refletirá no caráter de cada um dos que crêem, não dos que crêem em sua morte apenas, mas aos que crêem nele como cordeiro, como sumo sacerdote e como advogado.

Para estes, está reservado recebê-lo como Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. A perfeição afinal não é para os que podem, é tão somente para os que crêem que em Cristo ela pode ser, pois foi ele mesmo que a prometeu quando disse: "Sede perfeitos". Aqueles que não crêem estão automaticamente desqualificados a ela, pois, não crendo nela, não crêem nAquele que a prometeu.

O grande pecado que excluiu os hebreus da terra prometida foi a incredulidade. Mesmo assim, mais uma vez, infelizmente, a história se repete. -- Vosso irmão em Cristo, Rogério Buzzi.


Apenas uma breve nota para chamar a atenção de nosso distinto público, interessado neste debate. Observe-se o número de textos bíblicos apresentado pelo irmão Buzzi na sua exposição: exatamente ZERO! Desse jeito não dá...  -- Azenilto G. Brito


Gostaria de assinalar adicionalmente que, de fato, o irmão Rogério Buzzi faz referência a textos bíbicos, embora de modo indireto, sem indicar o "endereço" dentro das Escrituras. Assim, dou a mão à palmatória e devo reconhecer que me precipitei em minhas observações acima.

De qualquer modo, acrescento um comentário que pode lançar luz em um ponto por ele ressaltado: os teólogos que ele examinou que alegam que em Romanos 7 Paulo fala de sua natureza antiga, antes da conversão, são os que se inclinam pelas teses católicas e, coincidentemente, também os perfeccionistas, como os irmãos Standish. Mas basta um elementar conhecimento de gramática para perceber na leitura do capítulo que, especialmente a partir do verso 14, o apóstolo emprega o tempo verbal presente e não o pretérito.

Assim, ele confirma a posição dos Reformadores de que somos simul iustus et peccator (ao mesmo tempo justo e pecadores), porém não mais "escravos do pecado". O cristão convertido terá que lutar até o fim de sua vida contra o pecado declarado e as tendências para o pecado.

Prof. Azenilto G. Brito
Ministério Sola Scriptura

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