Baú Adventista
 

por Wilson de Almeida

Na opinião de um professor amigo meu, 3% das pessoas realmente pensam; 7% pensam que pensam; 5% acham que precisam, mas têm medo de pensar; e os 85% restantes nem se dão ao trabalho de pensar a respeito. Não sei se classifico esse pesquisador entre os otimistas ou os realistas, pois uma afirmação assim, feita na base do achismo", talvez nem represente a realidade. Pode ser que o número dos que pensam seja ainda menor.

Meu pai, um engenhoso e alegre aposentado, já na casa dos 80, se diverte inventando quebra-cabeças com barbantes, argolinhas e ganchos. Depois, ele desafia os mais jovens a encontrarem soluções. São truques bem simples, mas para descobri-los é indispensável exercitar o raciocínio lógico. Quando estou por perto, observo que a maioria desiste após três ou quatro tentativas.Todos querem soluções prontas. Seo José tenta incentivar: Pense um pouco mais, use a imaginação!" Quando, finalmente, ele mostra o caminho das respostas, as pessoas invariavelmente se surpreendem: "Mas era assim tão fácil? Por que não pensei nisso antes?"

Pensar dá trabalho. Quem se dispõe a queimar as pestanas" quando pode receber quase tudo bem mastigado, de "mão beijada"? Na outra ponta há sempre um grupo de plantão tentando pensar e decidir pelos outros e, se possível, tirar boas vantagens disso. Quem alimenta o cérebro na base do "prato feito" vive uma vida vazia, sem direção certa, sem significado, sem opiniões próprias. São como folhas mortas carregadas de um lado para o outro pelo vento.

DECISÕES AUTÔNOMAS

É a capacidade de raciocínio e discernimento que estabelece a diferença fundamental entre o ser humano, os animais irracionais e as máquinas, até mesmo as "inteligentes". Por mais elaborada e revolucionária que seja a tecnologia de um computador, ele é somente um processador de dados com base em cálculos matemáticos. Jamais poderá tomar decisões autônomas, fundamentadas em algum tipo de juízo de valor, por mais simples que sejam.

Desprezar esse potencial humano de escolha e negar uma das características mais preciosas de que Deus dotou o homem o livre-arbítrio, a liberdade de pensamento e decisão.

Possivelmente, você já notou que todo ser humano tem, em maior ou menor grau, a tendência de querer controlar os atos de seus semelhantes. Isso acontece em vários níveis, dependendo da escala de poder e conhecimento que alguém possui. Há instituições altamente especializadas em exercer esse controle, principalmente nos campos da ideologia, da política e da religião. Os chamados formadores de opinião empregam tudo o que estiver ao seu alcance para tentar dirigir o pensamento coletivo na direção que lhes interessa.

A palavra chave aqui é controle. Existe aquele que controla e o que permite ser controlado.

O PAPEL DOS "ATRAVESSADORES"

Nas religiões em geral, o comportamento das massas é muitas vezes controlado por alguns líderes que pensam e decidem no lugar de multidões passivas. O mais preocupante nesse caso é haver, entre tais dirigentes religiosos, tanto aqueles que realmente São guiados por Deus quanto os que se utilizam da posição que ocupam para manipular o pensamento do povo no rumo que lhes convém. Usam o medo como elemento de reforço para falar em nome de Deus", e ameaçam com os terríveis castigos do fogo do inferno" os que não se deixam conduzir.

Essa intermediação é completamente oposta à forma como Deus Se relaciona com cada ser humano. Em matéria de salvação Ele não trata com grupos, muito menos com «atravessadores", mas individualmente, visto que cada pessoa é responsável pelas próprias decisões. Mesmo havendo respaldo bíblico para que as autoridades constituídas sejam respeitadas (Romanos 13:1-7), nenhuma autoridade tem o direito de pensar e fazer escolhas no lugar de outra pessoa qualquer.

Lucas, o escritor de Atos, descreve, no início da Igreja Cristã, um grupo de pessoas que só aceitou a mensagem do Evangelho depois de examinar tudo pessoalmente, com muito empenho, na Palavra de Deus. "O povo de Beréia tinha a mente mais aberta do que o de Tessalônica de modo que ouviam com mais interesse a mensagem. E investigavam dia a dia as Escrituras, para conferir as declarações de Paulo e Silas, a fim de ver se realmente elas eram assim" (Atos 17:1 1, A Bíblia Viva).

REGRAS DE "CERCA"

Claro que pode ser extremamente cômodo alguém viver sob uma religião delimitada por "regrinhas de cerca", com prescrições bem definidas do que se pode e do que não se pode fazer. Os judeus do tempo de Cristo eram especialistas em detalhar normas que incluíam até mesmo a proibição de cuspir no chão em dia de sábado para não "regar a terra".

O que é muito curioso, nesses regulamentos, são as maneiras inventadas para driblar as proibições.

Só para citar um exemplo moderno. Num bairro judeu, em Chicago, nos EUA há um cabo de eletricidade que circunda toda a região, o qual é ligado todas às sextas-feiras, na hora do pôr-do-sol Como a lei judaica ortodoxa proíbe aos seus adeptos determinadas ações desde o pôr-do-sol de sexta até o pôr-do-sol do sábado, tais como dirigir veículo, subir num edifício por meio de elevador, etc., era preciso encontrar uma saída para realizar as atividades sem "quebrar a lei". Descobriu-se nos escritos antigos que era permitido exercer algumas dessas tarefas dentro de casa. Por um raciocínio bastante engenhoso, a "casa" poderia ser interpretada como um lugar de segurança e o cabo energizado seria, no caso, um muro protetor", tornando-se, portanto, extensão da própria casa.

A ilustração não se destina a ridicularizar nossos irmãos judeus, a quem devemos muito, como cristãos. Por absoluta coerência, ninguém deveria criticá-los por isso, pois todos os que vivem sob uma religião alicerçada em regras, de alguma forma, agem de modo semelhante. O fato, porém, é verdadeiro e me foi relatado no próprio local, em 1996, por um funcionário da companhia de energia elétrica de Chicago.

Deus deseja que cada pessoa assuma sua própria responsabilidade nas escolhas e decisões tomadas, e que ninguém aceite "prato feito" por outro ser humano.A salvação é individual e somente podemos obtê-la através de um relacionamento pessoal com Cristo, em resultado de havermos aceito nossa inclusão na Sua morte e termos ressuscitado com Ele para uma nova vida.

O apóstolo Paulo afirma: "Porque eu, mediante a própria lei, morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a Si mesmo Se entregou por mim" (Gálatas 2:19 e 20).

Não há lugar para intermediários entre Deus e o homem. Cristo estabeleceu uma linha direta que liga o Céu à Terra e nos libertou de todo o jugo de escravidão. "Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de escravidão" (Gálatas 5:1).

Peça que o Espírito Santo dirija sua vida, para que através da "renovação da vossa mente... experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12:2). -- Texto publicado pela revista Sinais dos Tempos, em abril de 99, págs. 20-21.

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