Conheça o Verdadeiro Poder por Trás do Papa


O homem por trás do papa

Com a doença do sumo pontífice, seu secretário ganha poder

Por Jeff Israely
Time
Em Roma


A cada aparição agonizante do papa -- dos passos lentos e arrastados e sermões pronunciados com dificuldade da viagem ao Azerbaijão e Bulgária no mês passado, ao encontro abreviado com o presidente George Bush na semana passada no Vaticano- tem crescido a especulação de que João Paulo 2 possa estar debilitado demais para continuar liderando o 1 bilhão de católicos romanos do mundo.

Afastando os rumores de que ele poderia abdicar da função vitalícia, as autoridades do Vaticano insistem que a mente do papa continua aguçada. Mas até mesmo seus defensores mais ferrenhos agora reconhecem que o mal de Parkinson e um acúmulo de outros problemas físicos deixaram o sumo pontífice, de 82 anos, em uma condição cada vez mais debilitada. Adicionando pausas e cochilos mais longos no que antes era um dia de trabalho de 17 horas, o papa tem sido forçado a delegar o controle de grande parte das operações diárias do Vaticano. Mas para quem?

O primeiro lugar onde procurar seria entre os cardeais pesos pesados de Roma -fortes conservadores como Joseph Ratzinger da Alemanha e entendidos em burocracia como o chefe da Congregação dos Bispos, Giovanni Battista Re, que agora têm uma chance de promover suas próprias agendas sem a verificação papal. Mas muitas pessoas de dentro do Vaticano disseram que o verdadeiro poder por trás do trono papal está com um humilde clérigo polonês que eles chamam de don Stanislaw.

Em 1978, quando ele se tornou o primeiro papa não-italiano em mais de quatro séculos, João Paulo 2 se certificou de trazer consigo da Cracóvia seu secretário pessoal de confiança, o monsenhor Stanislaw Dziwisz (pronuncia-se Dgivich), que começou a trabalhar com ele em 1966. Quando o papa foi baleado em 1981, foi Dziwisz que pegou nos braços o sumo pontífice enquanto ele caía -e tem estado ao lado do papa desde então. Dziwisz dorme no quarto vizinho ao do papa, fica atrás dele durante a missa e, com exceção de algumas reuniões reservadas, está com o papa virtualmente todos os momentos do dia.

Tal proximidade constante deu a Dziwisz, 63 anos, um grau de poder apenas sonhado pelos prelados mais ambiciosos. "Dziwisz não é apenas um porteiro. Ele está convocando importantes reuniões e fazendo importantes nomeações", disse uma autoridade do Vaticano que, assim como seus colegas, pediu anonimato. "Ele parece um secretário quieto e fiel. E eu acho que ele é. Mas apesar de seu comportamento quieto, ele tem um poder incrível e o usa". Foi dito que ele bloqueou a nomeação de um bispo para um cargo chave porque considerava aquele padre mais vital para as necessidades pessoais do papa.

Sua influência, concorda a maioria dos observadores do Vaticano, está aumentando na proporção direta do declínio da saúde do papa. Dezenove anos mais velho do que seu secretário, dizem que o papa manteve uma relação de pai e filho com Dziwisz. Mas os papéis se inverteram nos últimos anos. "Dziwisz cuida de tudo, desde entregar um lenço para o papa até ajudá-lo a tomar decisões importantes e escolher quem pode vê-lo", disse o jornalista polonês Marek Lehnert, que passou 20 anos cobrindo o Vaticano.

Dziwisz não é considerado um intelectual ou uma força ideológica, mas não está buscando moldar questões doutrinárias, disseram pessoas de dentro do Vaticano. Ao invés disso, o secretário passou a atuar como mediador entre os padres poderosos dentro da Cúria Romana. À medida que a condição de João Paulo 2 deteriora, os poderes individuais dos padres parecem estar expandindo. "Os cardeais apenas lhe trazem documentos e dizem, 'Assine isto'", descreveu uma pessoa do Vaticano como sendo a atividade diária do papa.

Atualmente, o debate está girando em torno da agenda de viagens do papa. João Paulo 2, cujas viagens ao redor do globo são um símbolo de seu papado, parecia exausto e deixou que outros terminassem seus sermões durante sua viagem ao Azerbaijão e Bulgária. Mas até mesmo pequenas concessões à sua doença podem ser dolorosamente frustrantes para ele. Quando um assistente pegou um lenço que caiu de sua mão trêmula na Bulgária, pelo menos um repórter viu o papa agarrá-lo de volta e "batê-lo com força contra sua coxa". E mesmo assim ele parece determinado a prosseguir com a peregrinação ao Canadá, México e Guatemala, planejada para 23 de julho a 2 de agosto. Dziwisz pode ser a única pessoa que pode aconselhar João Paulo a não colocar ainda mais em risco sua saúde fazendo a viagem. Mas Dziwisz também é a pessoa que melhor compreende o papa, e talvez por isso Dziwisz agora esteja diante de um dilema do tamanho do seu poder. -- Tradução: George El Khouri Andolfato

Fonte: http://www.uol.com.br/time/ult640u157.shl

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